sábado, 20 de maio de 2017

Gaara Hiden - capítulo 4



Represas e o coração das pessoas são a mesma coisa em um sentido.


Depois que certo limite é passado, eles estouram.


Mas o homem havia suportado tantas ridículas coisas até agora, então ele pensou que ele seria perdoado pela ruptura em seu coração. A mulher pensava assim também.


No entanto... Um shinobi que parou de suportar, não é um shinobi.


Então, o que acontece com um shinobi que não é mais um shinobi?


É óbvio.


Eles se tornam presas.


*


“Você está indo atrás de Hakuto sozinho...?!” Baki não podia conter sua perplexidade e confusão diante da declaração de Gaara.


Isso era porque esse não era um pensamento normal para um líder ter.


Mas Gaara foi firme dizendo que era isso que ele iria fazer.


“No mínimo leve dois de meus subordinados com você” Baki disse, “Mas, pensando nisso sob a perspectiva de uma investigação, deveriam ir três times”.


“Isso não vai acontecer”. O homem que uma vez tinha sido subordinado de Baki balançou sua cabeça sem hesitação. “Se nós fizermos isso, vai se tornar uma missão. E nós não teríamos qualquer jeito de deixar isso fora do registro público”.


“...!” Baki finalmente entendeu qual o objetivo de Gaara.


Se essa questão fosse registrada, então em seguida ela sairia para o público.


Claro, o assunto não sairia em algo como no noticiário da tv ou rádio.


Era uma questão de que vazaria para a classe superior de Sunagakure.


Mesmo que não tivesse havido uma cerimônia oficial de casamento ainda, a jovem da tribo Houki era uma mulher suscetível a se tornar a esposa do Kazekage. E ele não tinha sido capaz de protegê-la. Isso seria um enorme ponto que perderiam, e uma raiz para a crítica.


Obviamente, Gaara não era o tipo de homem com mente pequena que se preocupava com sua reputação. O que Gaara estava preocupado era que, se a sua posição em Sunagakure balançasse, então tudo a sua volta poderia também desmoronar. Essa era a sua única preocupação.


Se você chamasse isso de alguém que era obcecado com o poder...


Então diga o que quiser.


Isso é o que o olhar firme nos olhos de Gaara dizia.


Seu rosto parecia de um homem totalmente maduro.


“Eu entendo”, Baki disse, “Deixe tudo aqui conosco. Nós vamos agir como se nada tivesse acontecido. Mas só até de manhã".


“Sim. Eu vou trazer Hakuto de volta até o sol se pôr!”.


*


“Você está saindo?”.


A mulher que estava esperando por Gaara em torno da saída do oásis foi quem perguntou.


Ela continuou: “Se assim for, por favor, me deixe ir também”.


Ela olhou para o Kazekage com um olhar forte e determinado por trás das lentes grossas dos óculos.


“Eu sou grato por suas intenções, mas-“ as palavras de Gaara foram cortadas pelo olhar de Shijima.


“Para começar, essa é a minha missão”. Shijima disse, “Eu supostamente tenho que ir, uma vez que todos os guardas foram derrubados e eu sofri uma lesão”.


Ela mostrou-lhe a ferida na lateral de seu corpo.


Ela estava falando sobre como os três chunnins da tribo Houki tinham sido enviados como guarda de Hakuto e tinham desmaiado sem um som. Shijima, que mal conseguiu segurar sua consciência, tinha sido envenenada com um ferrão e foi derrotada também.


“Você vai ser um obstáculo”. Gaara disse sem pausa, passando por ela.


Mas Shijima agarrou sua manga com uma determinação de aço.


“O veneno foi retirado, e não há nada em meus pontos vitais”, ela disse,


“Eu recebi assistência médica, então sou capaz de fazer algo”.


“...”.


Gaara tinha a intenção de virar e continuar seu caminho, mas por alguma razão ele descobriu que não podia.


‘Ah, eu vejo’.


Ele estava se lembrando de algo.


A voz de shinobis que estavam dispostos a jogar seus corpos fora, enquanto estavam profundamente pensando em alguém.


Ele não pôde olhar nos olhos de Shijima por trás de suas grossas lentes de vidro, mas suas palavras estavam cheias de sinceridade.


“Há uma semelhança” disse Gaara.


“Perdão?”


“Há um shinobi não convencional que diz as coisas da mesma maneira que você diz. Ele é impossível de lidar. O tipo de pessoa que iria se manter em movimento mesmo se eles estivessem mortos”.


“Eu realmente não entendo o que você está falando”.


“... Eu estou dizendo que se tornou problemático mandar você embora”.


Gaara disse e segurou um pequeno suspiro.


Mas ele não suspirou porque se sentiu desconcertado.


*


“Entendo”, o ancião falou quando ele escutou o fim do relatório. Ele deu um aceno, muito satisfeito.


O mais velho era Toujuurou.


“Para resumir”, Toujuurou disse, “tudo está saindo de acordo com o plano”.


“Sim senhor”.


O shinobi que estava servindo Toujuurou era um dos subordinados de Kankuro, Maijiru.


Toujuurou gostava quando os jovens se rebaixavam na frente dele. Ainda mais quando era um jovem de boa aparência como Maijiru.


Isso era porque ele estava com ciúmes.


No passado, ele havia sido um usuário de taijutsu que era considerado o mais forte de Sunagakure.


E não tinha sido apenas o taijutsu que ele tinha se destacado.


Seja liberação de vento ou invocação ou genjutsu, ele tinha ficado acima de todo o resto em todos os campos. Mas, mais do que qualquer coisa, seu corpo que se movia de modo leve tinha sido a sua identidade.


Mas agora ele era velho.


Seus olhos já não podiam captar o mundo como ele queria, suas pernas não o deixavam mais voar, e seus dedos não podiam mais mover como ele desejava.


Mesmo assim, as pessoas ainda o elogiavam como um super-homem, como um herói que ainda era vigoroso em sua velhice.


Mas eles estavam errados.


Isso não era a realidade.


Ficar velho significava deixar o cargo.


Ficar velho significava descer lentamente de sua posição no topo da cúpula.


Vários shinobis superaram suas habilidades em seu corpo antigo. O que isso significava? Isso significava que, ao contrário do seu eu mais jovem, ele já não podia suportar ficar no topo. Exatamente isso era insuportável.


E foi por isso que Toujuurou se ressentia com aqueles com a juventude.

Porque enquanto eles não eram tão habilidosos quanto ele agora, um dia, eles iriam ultrapassá-lo.


‘É por isso que vou continuar provando que sou alguém que essa vila precisa.’


Toujuurou deu algumas instruções a Maijiru e se inclinou contra o seu sofá, satisfeito.


*


A noite no deserto era fria.


Isso era porque o deserto não tinha nuvens ou umidade, rios ou oceanos ou florestas, tudo o que poderia servir para conservar o calor adquirido com o sol brilhando todo o dia.


Era por isso que, apesar do dia estar tão quente que você poderia fritar um ovo em cima de uma rocha, a noite estava fria o suficiente para lhe congelar.


‘Não é como se o País do Fogo não pudesse conquistar o País do Vento. É que nós não queremos isso’.


O Daimyo da Terra do Fogo tendia a dizer isso. As palavras não eram razoáveis.


Neste momento, Gaara e Shijima estavam correndo de forma determinada através do deserto congelante.


Eles não estavam voando com a areia de Gaara porque ele estava preocupado em acabar sendo detectado. Corre também os ajudava a seguir as pegadas do sequestrador de forma mais precisa, e isso ajudava a conservar chakra.


“Olhe para a direita da duna de areia. Como esperado, eles estão indo em direção à fronteira com o País do Fogo”.


O shinobi que havia derrotado Hakuto tinha sido um deles.


Você podia dizer por suas pegadas.


Seria melhor pensar nele como alguém muito habilidoso. O inimigo não teve tanto tempo para recuperar o fôlego enquanto derrubava Shijima e os outros guardas. Parecia que ele estava qualificado o suficiente para apagar suas pegadas com liberação do vento enquanto corria também.


“Má sorte a dele que estou o rastreando”. Gaara murmurou para si mesmo, mas não com orgulho.


A areia do deserto vivia ao lado de Gaara como se fosse da família. Se não tivesse sido Gaara que tinha sido capaz de rastrear o shinobi, então eles definitivamente teriam escapado sem ninguém ser capaz de rastreá-los através do grande deserto. A técnica que o shinobi tinha usado para se livrar de suas pegadas tinha sido de primeira classe.


Enquanto Gaara caminhava, a areia debaixo dos seus pés se deslocava com um som sussurrante, e antes que você percebesse, os grãos tinham se afastado de forma sinuosa, como em um canto, revelando as pegadas que haviam sido cobertas. A areia não mentia para Gaara.


“Se ele está indo em direção à fronteira, então em seguida vai passar pelas terras da tribo Houki”, disse Shijima.


“Ah, certo. Seu povo era originalmente da terra do Fogo, não era?”.


“... Sim”. O rosto de Shijima escureceu um pouco.


“Não se incomode”, Gaara disse, “Eu não estou procurando repreendê-la.

Estou apenas verificando os fatos. Você vai estar mais familiarizada com o terreno daqui. Existe alguma área à frente daqui onde alguém poderia se esconder?”.


“Há um lugar que é cerca de uma hora de distância com os passos de um shinobi. São as antigas ruínas de uma cidade. É um lugar amaldiçoado da terra, de modo que nem fugitivos e nem ladroes vão para lá”.


“Entendo”.


Havia muitas ruinas de cidades antigas encontradas pelo inativo deserto. Isso fazia uma pessoa questionar se essas cidades tinham sido construídas há muito tempo, antes de o deserto ser um deserto. Mas não tinham detalhes definidos. A teoria era que as ruínas tinham sido deixadas na época do Sábio dos Seis Caminhos e Ootsutsuki Kaguya.


“Tudo bem, vamos fazer uma pausa”.


“... Por que, senhor? Devemos nos apressar para resgatar Hakuto-sama”.


Em sua cabeça, Gaara foi até o arquivo de Hakuto que Baki lhe dera.

A maioria de suas missões tinha sido infiltração, homicídio e serviço de guarda. Desde que ela estivera envolvida no segredo da tribo de Hokuto, assuntos internos, seu arquivo não tinha muitos detalhes, mas...


‘Ela não teve muita experiência em uma missão no exterior’.


Gaara encontrou uma duna de areia que parecia um bom lugar para descansar, e, colocando um pedaço de pano, ele se sentou.


“Faça uma pausa”, ele disse, “a sua temperatura corporal caiu muito mais do que você pensa”.


“Mas-“.


“Sente-se. Isso é uma ordem do Kazekage”.


Gaara não gostava de ter que usar a sua autoridade, mas conseguir trazer Hakuto de volta era a coisa mais importante.


“Entendido”. Shijima sentou-se lentamente, mas um pouco reservada, ao lado de Gaara.


“Isso vai ser bom para você”. Gaara disse.


Ele tirou um fogão portátil e pendurou uma pequena chaleira no fogo. Ele acrescentou água do cantil, cubos de açúcar, folhas de hortelã e folhas de chá.


Enquanto esperava a chaleira emitir sons agradáveis para mostrar que estava pronto, Gaara olhou para as estrelas.


Ele não gostava ou desgostava das estrelas em particular.


Estrelas eram ferramentas indispensáveis para a confirmação de sua localização no deserto com menos pontos de referência, passando a observar a sua posição a partir delas.


Era por isso que shinobis do deserto, como Gaara, habitualmente olhavam para as estrelas.


O céu do País do Vento era vasto e sem fim.


Ao nível do solo no deserto, havia nuvens de poeira e sujeira, mas o céu estava claro e transparente. Isso porque não havia quaisquer luzes de cidade ou quaisquer nuvens para bloquear a vista.


Estrelas eram como grãos de areia capturados no céu. Elas eram frias, não davam qualquer tipo de calor para aquecê-lo, e simplesmente estavam penduradas ali, lindamente, sem qualquer sujeira.


‘Comparado a isso, nós seres humanos que continuamos a lutar entre nós, somos sujos’.


O chá na chaleira havia começado a ferver.


Gaara serviu o chá que tinha preparado em algumas xícaras portáteis a uma certa altura. Ele estava fazendo isso para garantir que o pó ficasse no fundo da espuma da chaleira. Se ele não derramasse a partir de uma altura, o chá teria um sabor de pó. Você tinha que beber chá sem o pó das folhas.


“Beba isso”, Gaara disse, “aqueça seu corpo”.


“Sim senhor”.


Quando passou a xícara de chá para ela, os dedos de Gaara brevemente roçaram nos de Shijima.


‘... Eles realmente parecem iguais’.


As estrelas deram luz o suficiente para ele ver que, excluindo os seus óculos de lentes grossas, Shijima parecia incrivelmente semelhante à Hakuto.


‘Elas não são apenas da mesma tribo’. Gaara concluiu, mas não assumiu mais do que isso.


Sua própria família tinha sido complexa também, e ele ganhou feridas por causa disso, então Gaara não gostava de perguntar sobre os assuntos familiares de outras pessoas que não tinham nada haver com ele.


“... É quente”. Os óculos de Shijima tinham embaçado um pouco com o vapor do chá, e sua voz soou como se ela estivesse confortável pelo chá.


“Como deve ser” Gaara disse, tomando um gole também.


O chá tinha um sabor como açúcar doce, folhas de chá e hortelã.


Era um gosto familiar que pertencia ao deserto.


“À noite no deserto, a temperatura do corpo humano cai rapidamente, e eles perdem o açúcar em seu corpo muito rápido. O que é mais assustador é que isso acontece sem que nós percebamos”.


“Sem perceber? Eu tenho estado assim também?”.


“Ninguém percebe. Eu também, inclusive”. Gaara tomou mais um gole de seu chá. “O deserto não é um ambiente onde as pessoas podem viver. É por isso que os nossos instintos de sobrevivência saem do controle aqui. Eu já vi muitos shinobis de países estrangeiros que se tornaram incapazes de sentir o calor ou o frio, e morreram na beira da estrada”.


Mesmo Gaara, que estava protegido por sua defesa absoluta, não era uma exceção a essa possibilidade.


Sua defesa absoluta iria repelir qualquer ataque que viesse ao seu caminho, mas naturalmente, isso não iria ajudá-lo a obter a vitória.


“E como não morremos assim, é necessário lidar com isso mecanicamente. Você deve fazer uma pausa a cada duas horas. Enquanto descansa, você deve beber chá doce. Se você puder fazer isso decididamente, a pausa vai impedi-la do sofrimento e ajuda-la a lidar melhor com a situação”.


O vento foi de encontro a eles, e o deserto mudou de cor novamente.


“O shinobi que pegou Hakuto não deu uma pausa. Mas esse tipo de passo forçado não vai durar muito. Em breve ele vai ter que tomar um descanso de forma abrupta. O que é necessário para o shinobi continuar a aguentar não é o idealismo. É habilidade”.


“... Posso te fazer uma pergunta?”. Shijima perguntou. Ela estava olhando para sua xícara meio vazia de chá como se seus olhos estivessem em algum lugar distante.


“O que foi?” Gaara perguntou.


“Por que você está fazendo isso tudo?”.


“Pela dignidade de Sunagakure”, disse Gaara, “Porque eu sou o Kazekage que é responsável pelo futuro”.


“E isso é tudo?”.


“Hakuto é importante, é claro. Eu não tenho nenhuma intenção de deixar seu resgate para os outros”.


A ordem provavelmente deveria ter sido trocada de modo que Hakuto viesse primeiro, mas Gaara era um homem sério demais para deixar mentiras se misturarem em suas palavras.


“Por quê?” Gaara perguntou.


“... Não. Não é nada”.


“Entendo. Então, devemos começar a ir agora. Devemos capturar o shinobi”.


Gaara levantou-se, recolhendo as folhas de cá que tinham sido deixadas na chaleira para o pequeno chá que restou em seu copo, em seguida, jogou-os com uma série de movimentos exagerados pelo vento do deserto.


“... Isso é um tipo de ninjutsu?”.


“É um encanto”, disse Gaara, com um olhar muito sério em sua face.


“Encanto?”.


“Minha irmã mais velha, Temari, me ensinou isso. É algo que tem sido transmitido ao clã do Kazekage. É um encantamento que permite que você peça emprestado o poder dos espíritos do deserto para salvar seu amante”.


“É mesmo?” Um pequeno sorriso afetuoso passou pelo rosto de Shijima.


“Bem, então, eu espero que o espírito empreste seu poder e o desejo seja concedido. Vou dedicar um pouco do poder que tenho também”.


“Eu vou estar contando com você”.


As sombras da dupla começaram a andar novamente.


*


‘Eu nunca pensei que as coisas poderiam chegar a esse estado tão rapidamente’.


Kankuro havia voltado para Sunagakure, e o olhar em seu rosto naquele momento era de alguém que tinha mordido um limão azedo.


“Kankuro-sama”.


Cerca de vinte jovens shinobis tinham vindo para vê-lo.

Cada um deles tinha sido criado depois da Quarta Grande Guerra Ninja, e cresceram sob o seu cuidado.


Você poderia chamá-los de inocentes. Eram todos meninos e meninas adolescentes.


“Nós deliberamos durante um tempo, e no final, decidimos que não podemos prosseguir com o regime atual”.


“Olhe só para vocês decidindo uma coisa tão grande” Kankuro balançou a cabeça, como se estivessem brincando, mas todos os olhos estavam sérios.


Eles realmente tinham decidido algo grande, ele pensou.


“Sob o rótulo bonito de uma ‘distensão’, tudo o que acontece é que o orçamento é reduzido, e nós não estamos mais recebendo lugar para trabalhar”.


“Nós não podemos mais seguir o regime atual, não com as políticas fracas do coração de Gaara-sama!”


“Enquanto nós somos forçados a viver um estilo de vida dura, ele sai e tem uma reunião de casamento chamativa”.


“Nós pensamos que aquele que deveria nos liderar deveria ser você, Kankuro-sama, o filho mais velho do antigo Kazekage!”.


“...”.


Ele podia entender seus sentimentos. O pensamento do Daimyou sobre os shinobis de Sunagakure era como se fossem ferramentas intercambiáveis. E em resposta a distensão, eles mantiveram a terceirização de suas missões às vilas mais baratas a fim de economizar custos.


Mas, claro, estava apenas certo que aqueles que foram confiados com os impostos dos cidadãos pensassem cuidadosamente sobre como eles foram usados.


E ainda, o acordo desde os tempos antigos era que supostamente o shinobi que iria proteger o país, e o Daimyou que iria supervisionar.

Gaara não era incompetente.


Seu irmão mais novo estava pensando em um caminho que deixaria o povo de Sunagakure, e do País do Vento, e todos em todo o continente viverem bem suas vidas.


E, passo a passo, ele estava caminhando na direção desse objetivo.

Mas ele não poderia agradar a todos com isso.


A estrada escolhida por Gaara era a da ‘paz’.


Não era apenas para ‘Suna prosperar’.


Se uma outra guerra mundial shinobi começar, e Suna derrotar as outras vilas e assumir toda a terra abundante e fértil delas, então sim, isso poderia valer a pena e recompensar o shinobi, assim como o jovem ninja tinha dito.


Mas, eles estariam prosperando no topo de uma montanha de cadáveres, e eles teriam alcançado a glória que foi sustentada pelo ódio.


E, além disso, o que eles fariam se perdessem a guerra? Se Sunagakure fosse derrubada mais uma vez, então dessa vez eles provavelmente não poderiam ser capazes de se erguer novamente.


E foi por isso que Gaara tinha escolhido o caminho da ‘paz’. Não por causa de qualquer idealismo, mas porque ele estava pensando de forma realista, para o bem de seu país.


Cooperação com outras vilas não daria resultados imediatos, mas, eventualmente, graças a essas relações recíprocas, Sunagakure iria prosperar como nunca tinha prosperado antes.


Gaara tinha escolhido esse caminho pensando nisso.


“Isso não significa,” Kankuro disse, “que vocês têm a intenção de matar Gaara?”.


“!”.


Uma inquietação se espalhou por todos os jovens shinobis.


Embora nenhum deles tenha testemunhado pessoalmente a Quarta Guerra Mundial Ninja, todos sabiam do estilo de luta lendária de Gaara. Gaara tinha passado por uma luta com o nível de deuses com Ootsutsuki Kaguya e sua família, bem como a luta contra os fantoches enviados a partir da lua. Ele era o Kazekage entre os Kazekage.


Mesmo agora, quando eles falavam sobre dar um golpe de estado, a fé de todos os jovens shinobis em Gaara era absoluta.


“Isso é- não temos intenção nenhuma de fazer isso”.


“Estamos apenas pensando que Gaara-sama poderia tomar uma posição de conselheiro, e Kankuro-sama poderia se tornar o Kazekage”.


“Nós apenas queremos puxar Gaara-sama para longe do campo da política”.


‘Entendo... vocês têm pensado sobre isso.’


Se os jovens shinobis fizessem isso, então seria difícil para as forças externas ver isso como um golpe. Se as mudanças políticas em Suna fossem realizadas dessa forma, então outras vilas não teriam razão para prestar assistência ou intervir de alguma forma.


“Kankuro-sama!”.


Sunagakure era uma vila relativamente pobre.


Claro, havia vilas ainda mais pobres.


Kankuro pensava que as melhorias que tinham vindo de Suna sob o governo de Gaara tinham sido incrivelmente grandes.


No entanto, quando os jovens shinobis interagiam com outras vilas, eles percebiam que Suna ainda era “pobre” em comparação a elas. E assim, eles começaram a sentir certo ressentimento.


Por exemplo, se você perguntasse a Kankuro ou Temari, então eles diriam ‘comparado com a época durante o golpe contra Konoha, a vida cotidiana de todos agora está seriamente muito melhor’.


Mas, os jovens shinobis só sabiam do “agora”.


“Kankuro-sama!”


“Kankuro-sama!”


“Por favor, nos diga a sua decisão!”.


Vinte pares de olhos sinceros fixaram seus olhares em Kankuro.


Ele não teve escolha se não lhes dar uma resposta.


*


Gaara sentia como se estivesse vendo uma massa de lápides alinhadas lado a lado.


Ele conseguia entender porque até mesmo os ladrões não se aproximavam daquelas ruínas.


A areia ali era de um belo e puro branco, ao ponto que você se pergunta se ela não era o cristal que restou dos ossos quebrados. Os edifícios de concreto que se erguiam fora da areia tinham que ter sido os arranha-céus que aquelas pessoas antigas haviam construído.


Mesmo agora, você podia sentir que as pessoas costumavam viver ali.

Cadeiras que não eram diferentes das que vieram depois, pilares de metal que uma vez haviam sido lâmpadas de rua, estradas muito espaçosas, os trens relâmpagos* deitados em cima de trilhos com ninguém para montá-los, computadores enterrados na areia...


Não havia nenhuma maneira de saber para onde as pessoas que viviam ali tinham ido.


Havia apenas a luz da lua brilhando, e a sensação pesada de morte.


Era um cemitério deslumbrantemente branco de areia.


No meio daquela paisagem estava Hakuto.


Ao lado dela estava um shinobi desconhecido.


Se você tivesse que adivinhar sua idade, ele não parecia muito mais velho do que Gaara. Tinha uma estatura mediana, mas que, obviamente, tinha sido disciplinada, com cabelo preto despojado. Ele se parecia com Gaara.


“Então você é quem sequestrou Hakuto”.


Hakuto não estava amarrada e ela não estava sendo carregada.

Se ele ainda podia chamar aquela situação de “sequestro” isso era algo que Gaara estava hesitante, mas ele não tinha outras palavras para usar.

Um homem e uma mulher. Você pensaria que isso era um certo tipo de situação.


No entanto, essas eram palavras que Gaara tinha a dizer por causa de onde ele estava.


“Eu sou Shigezane, da tribo Houki”. O Homem falou sem hesitação. Ele caminhou em direção a Gaara com um olhar claro em seus olhos. Seus passos eram firmes na areia, deixando escapar sons enquanto andava.


“Já ouvi falar de você, o mestre de Mineração de Metais”.


“É uma honra se você já ouviu falar do meu nome”. Shigezane respondeu. “Eu seria contra se eu fosse um pobre especialista na técnica transmitida a mim pelo Quarto Kazekage”.


“Meu pai costumava elogiar sua habilidade”, disse Gaara.


Não houve mentiras no que ele disse. Ele não tinha encontrado o homem antes, mas ‘Shigezane de Houki’ era conhecido por ser o homem que usava o ninjutsu único de tirar os cristais metálicos da terra abaixo, um profissional em mineração e forte destruição.


Semelhante a liberação magnética, a técnica também permitia que o usuário tirasse pó de ouro a partir d solo. Isso havia sido ensinado a Shigezane pelo pai de Gaara, que tinha estado concentrado na situação financeira da vila.


‘Que irônico’.


O jutsu de Gaara tinha sido influenciado por seu pai também, no entanto foi principalmente caracterizado pela habilidade de manipular a areia que ele já tinha nascido com ela como um Jinchuuriki.


A verdade é que nenhum dos três irmãos da areia tinha herdado o jutsu do Quarto Kazekage.


Era por isso que sabendo que o homem em frente aos seus olhos era discípulo de seu pai, fez com que fortes e estranhas emoções crescessem dentro de Gaara.


“Eu não sei quem está te instigando a fazer isso”, Gaara disse, “Mas o que você está fazendo agora não é nada mais do que um chamariz. Você realmente tem a intenção de morrer inutilmente fazendo esse tipo de coisa?”.


“... Eu estou plenamente consciente do que estou fazendo”. Os olhos de Shigezane estavam inabaláveis.


Somente as pessoas que pretendiam caminhar diretamente para os braços da morte tinham aquele olhar em seus olhos.


O olhar em seus olhos era o mesmo de Hakuto que estava ao lado dele.

E com isso, Gaara compreendeu.


“Gaara-sama!” Shijima gritou, “Vou começar antes de você!”.


“!”.


Shijima estava correndo em direção a eles. Ela agarrou sua houshuriken em suas mãos, e enquanto criava um clone de kage bushin, chutou contra o pó de cristal da areia, pulando no ar.


“Shigezane!” ela gritou, “você que raptou a Senhorita, apesar de ser da tribo Houki, tome a sua punição!”.


“Shijima?!” Shigezane rapidamente fez um selo.


Foi uma liberação de água.


Essa era uma técnica inadequada para o deserto, com poucos usuários dela.


‘Mas nós também estamos escassos de técnicas que podem lidar com a liberação de água’.


A areia abaixo de Gaara estava tremendo.


‘Vem debaixo!’.


Gaara fez um escudo de areia, mas não conseguiu chegar para proteger Shijima.


O ataque foi feito de água.


Uma coluna de água subterrânea explodiu do chão sob os pés de Shigezane.


Era uma lâmina de água de alta pressão.


Os túneis estavam cheios de combustível da mina empoeirada e gás, de forma que tal técnica era necessária para cavar através da rocha sem criar faíscas inflamáveis.


Mas era também um fato de que se você tomasse uma batida direta contra a lâmina de água, isso cortaria de forma limpa através da carne e do osso.


As houshuriken de Shijima foram pulverizadas pelo ataque de água de Shigezane.


O vento selado dentro dela estourou a houshuriken e explodiu, mas ao mesmo tempo em que isso enfraqueceu a pressão da água, o ataque da água ainda tinha poder suficiente para cortar e raspar a pele e as roupas de Shijima.


“Tch!” Gaara estalou a língua e começou a correr.


Ele não queria ver a kunoichi que tinha vindo junto para ajudá-lo ser cruelmente morta.


A ação correta para ser tomada nessa situação era, provavelmente, sacrificar Shijima para que ele pudesse testemunhar a técnica de Shigezane em ação e ver através dele, mas esse tipo de resposta “correta” era apenas uma besteira.


Gaara nunca, sequer uma vez, tinha sido um homem que viveu para fazer a coisa “correta”.


Ele era um homem que vivia por causa do amor.


E o amor, o amor estava segurando sua mão para qualquer acima de qualquer coisa, sem esperar nada em troca.


Era por isso que Gaara corria.


“Eu vou tomar a sua vida!” Shigezane enviou outro jato de água.


“Mas esse ataque é muito simples” Gaara disse.


Ele virou a proteção de areia em um ângulo agudo, e em vez de receber o ataque, desviou para o lado.


Não importa o quão alta seja a pressão de uma lâmina de água, se você deu um ângulo para sua energia cinética, então ela perdia sua eficiência de corte.


A areia branca que circundava Gaara se deslocou, como uma flor que floresce.


Ele quase parecia que estava no meio de uma rosa branca.


Outra onda de jato de água, e outra, e outra.


A água correndo se tornou em uma tempestade em torno de Gaara, mas foi rapidamente absorvida por sua areia e vendo, e nunca conseguiu alcançá-lo.


Uma luta de longa distância tinha a alta probabilidade de por Hakuto em perigo.


Ele seria capaz de terminar as coisas em um combate mais próximo, Gaara decidiu, e se moveu para cortar a distância entre ele e o inimigo.

Naquele momento, Hakuto, que não tinha estado fazendo nada até agora além de assistir a luta com um olhar triste em seus olhos, soltou um grito:


“Gaara-sama, Shijima, corram!”.


“Hakuto!” Por um único instante, Shigezane olhou por cima do ombro, tão surpreso quanto os outros.


E com aquele instante, Gaara teve tempo para se preparar para o próximo ataque.


Shigezane tinha vindo a fazer um novo selo. Você podia ver que ele estava reunindo uma grande quantidade de chakra.


‘Um grande ataque, huh’.


Gaara imediatamente começou a preparar-se para se defender.


Mas, em seguida, com um gemido baixo, a areia sob os pés de Gaara começou a girar.


Areia movediça?!


Areia movediça era um fenômeno que ocorria quando a areia tinha se tornado cheia de água, e graças a essa saturação de água, ela começou a se comportar como um líquido falso.


‘Seus ataques anteriores de água tinham sido uma estratégia para saturar a areia em volta de mim com água!’.


Como um navio que está sendo arrastado para baixo sob um redemoinho gigante, sem qualquer tempo, o corpo de Gaara tinha afundado até seu abdômen. Se ele não fizesse algo para salvar a si mesmo, então seria engolido inteiro pela areia movediça.


Mas lidar com esse tipo de areia era complicado. Ele não poderia repelir com um escudo de areia, porque nessa situação, a areia era sua própria inimiga. A areia estava sendo manipulada pelo chakra de Shigezane, e ele não podia recuperar o controle completo dela ou algo do tipo.


‘Ele me pegou... Todo esse pedaço de terra era uma armadilha!’


Mas isso não significa que uma fuga era impossível.


A verdade é que ele era perfeitamente capaz de escapar. Ele podia recuperar o controle de uma pequena quantidade de areia e envolvê-la em torno de si e voar para fora.


Mas Gaara não fez isso.


Isso era porque ele tinha visto Shijima ter sido puxada para o meio da areia movediça também.


Shijima havia sido ferida no ataque anterior. Não parecia como se ela pudesse escapar.


Se ela fosse arrastada para dentro da areia, então ela iria inevitavelmente morrer sufocada.


Mesmo se Gaara derrotasse Shigezane, ele não seria capaz de alcançá-la a tempo. Mesmo Gaara não seria capaz de encontrá-la rapidamente se ela se afundasse em uma área tão grande de areia.


E assim, Gaara usou sua areia para saltar em direção a uma Shijima afundada.


“Gaara-sama?!” ela gritou “por que você está...?!”.


“Não fale”, ele disse, agarrando-a pelas mãos e puxando-a para si. Ao mesmo tempo, ele puxou um escudo de areia ao redor deles.


‘Parece que não seremos capazes de escapar a tempo com o vôo...!’


“Segure sua respiração”, ele disse para Shijima, e o redemoinho de areia engoliu os dois por inteiro.


Gaara tinha fechado ambos em uma cúpula de sua própria areia, e assim que eles afundaram na escuridão, ele tentou freneticamente manter o ar.


*


“Eu entendo”, Kankuro disse. Ele tinha saído de sua cuidadosa

deliberação ao dar um aceno de cabeça firme.


“Ahh!”.


“Kankuro-sama!”


“Kankuro-sama!”


“Quando eu e os outros instalamos Gaara como Kazekage, nós não fizemos isso com quaisquer métodos usuais também”, Kankuro disse,

“Vocês poderiam dizer que essa é apenas uma repetição daquilo, não é?”.


“Muito obrigado!” Suas vozes de júbilo choraram.


Não havia mais como voltar atrás.


“Então, vocês já terminaram de elaborar um plano específico?”


“É claro”.


Kankuro olhou para o protocolo que tinha sido entregue a ele, e suspirou interiormente.


Era exatamente o mesmo tipo de plano para assumir o controle de uma cidade que tinha sido ensinado nos livros didáticos. Ele cobriu os pontos principais, mas não havia nenhuma imaginação.


Mais precisamente, não havia nada que representava um desenvolvimento surpreendente. Desenvolvimentos como, digamos, Uzumaki Naruto.


Kankuro alterou algumas coisas com uma caneta vermelha e entregou o protocolo de volta.


“Eu entendi”, ele disse, “mas prometam-me isso: nenhum sangue será derramado. Se qualquer sangue for derramado, haverá retribuição. Até o fim, isso vai ser uma operação pacífica para suprimir os superiores e tomar a posição de Gaara”.


“Sim senhor!”


“Quem elaborou este plano?” Kankuro perguntou.


“Fui eu”. Maizuru deu um passo à frente, parecendo orgulhoso. Suas bochechas estavam vermelhas.


“Entendo”, Kankuro disse, “eu tenho entendido os seus sentimentos também. Você não vai fazer nada de ruim, não é?”.


No meio de sua segunda rodada de torcida, Kankuro olhou para cima, em busca de um céu que ele não seria capaz de ver.


Ele não podia voltar aos dias tranquilos e fáceis mais.


*

.

.

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Escuridão.

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Escuridão profunda.


Algo grosso e vermelho se espalhando ao redor dele.


Sangue.


O cheiro de sangue tinha estado sempre rodeando o jovem Gaara.


“Por que... eu sou diferente de todos?”.


Ele tinha nascido como um Jinchuuriki. Ele tinha sido o filho do Kazekage, mas mesmo que essa pessoa fosse seu pai, ele havia tentado assassinar Gaara.


E assim, Gaara não conhecia nenhuma outra maneira de interagir com as pessoas além de feri-las.


Ele se perguntou quantas pessoas tinha matado.


Havia pessoas que ele tinha matado só porque não gostava delas, e havia pessoas que ele tinha parado em rota para uma missão.


Seu tio Yashamaru tinha sido como um pai para ele, mas depois ele se tornou um assassino, e Gaara o tinha matado. Ele tinha matado outros como ele também.


Gaara não podia julgar entre o bem e o mal.


Ele simplesmente... matava.


Ele matou e matou e matou, e construiu literalmente uma pilha de corpos em rios de sangue.


Ele pensava que... isso tinha sido por amar a si mesmo.


*


Quando Gaara acordou, ele viu o rosto de uma bela mulher na frente de seus olhos.


“... Hakuto?”.


“Você já acordou, Gaara-sama?” Shijima era quem estava cuidando dele.


“É você, Shijima. Peço desculpas”.


Misturando o rosto de uma bela mulher com outra poderia ser tomado como uma falta de sinceridade. Mesmo Gaara, como um ignorante dos costumes do mundo como ele era, sabia disso.


“Não, está tudo bem...”, disse Shijima, “Você recuperar sua consciência é mais importante do que qualquer outra coisa”.


Parecia que ele tinha usado uma quantidade surpreendente de chakra.

Seu corpo estava muito pesado.


“Onde nós estamos?”


“Parece uma caverna subterrânea” disse Shijima, “Parece que a areia tem escorrido até essa caverna, aonde a água subterrânea veio”.


Os olhos de Gaara finalmente se ajustaram à escuridão.


Shijima tinha um bastão de luz de emergência em sua mão, e ele podia ver as formas das construções antigas em torno deles com o brilho que a luz emanava.


Ele não podia ver o céu. Parecia que eles tinham sido arrastados para baixo em algum lugar muito profundo.


“Quanto tempo se passou?”.


“Cerca de três horas”


“Entendo” Gaara ajustou sua respiração e começou a esperar por seu chakra se restaurar.


Hakuto não parecia ferida. Ela provavelmente não seria morta imediatamente, certo?


Ainda havia tempo até o amanhecer. Ele tinha que manter a calma.


Shijima falou: “Posso te perguntar uma coisa?”.


“Se for algo que eu possa responder” Gaara disse.


“... Por que você me salvou?” Shijima estava genuinamente perplexa.


Ela provavelmente esperava que ele fosse abandoná-la lá. Ela não ficaria triste sobre isso também.


Isso era como os shinobis eram, afinal. Primeiro, havia a missão e, em seguida, havia você mesmo. Era natural pensar dessa forma.


“Nenhuma razão”, disse Gaara.


“Nenhuma razão...?!” Shijima exclamou. “Você me salvou, abandonando não apenas a Senhorita destinada a ser sua esposa, mas o seu próprio bem-estar– não há qualquer mérito nisso! Eu sou apenas um shinobi!”.


“Oi“, Gaara sentiu uma pequena elevação de irritação nele com essas palavras. “Não fale como se o valor da vida muda de acordo com a pessoa em questão”.


“Eh?”


“Não importa qual vida seja, o valor é o mesmo que qualquer outra. Isso sem mencionar que você é uma cidadã de Sunagakure, então você é parte da minha família”. Gaara mesmo não entendia por que ele se sentia tão irritado. “Certamente, há momentos em que alguém de nível maior ordena que seus subordinados morram, mas isso é enquanto eles têm esperança de que até o último momento eles possam ter uma possibilidade de viver. Encarar a morte certa é diferente de suicídio, e confiar em alguém que você acredita em uma difícil missão é diferente de parar e vê-los morrer”.


“Eu entendo isso”. Shijima disse, “mas isso foi uma luta com sua honra em jogo. Se isso se trata de você deixar a mulher que vai se casar ser levada–“.


“Eu sei. Os colegas que pensam mal de mim vão usar isso em suas propagandas –não, eles provavelmente traçaram isso para essa finalidade, para começar”.


“Então, por quê?”.


“Porque eu queria te salvar”. Gaara se virou para que ele pudesse olhar nos olhos de Shijima através de seus óculos. “... Há muito tempo atrás, no meio da luta durante o esmagamento de Konoha, eu conheci um homem. Uzumaki Naruto. Ele era um shinobi incrivelmente estranho”.


“Aquele lendário...?”.


“Suas técnicas e seu conhecimento eram horríveis”, Gaara disse,

“Diferente de mim, autorizado a viver como um ser humano, apesar de ser um jinchuuriki... Eu pensei que ele era um completo idiota”.


Ele ainda era jovem na época. Era uma lembrança dos exames chunnin.


Naquele tempo, Gaara tinha sido enviado para participar do exame chunnin como um espião para esmagar a vila de Konohagakure por dentro.


“Mas...”, Gaara disse, “Esse Naruto veio para lutar comigo cara a cara. O que isso significava para viver, quanto mérito estava lá com a dor... e o que significava amar alguém, essas são todas as coisas que ele me ensinou”.


Era uma lembrança muito preciosa.


E não tinha sido apenas Naruto.


Rock Lee. Haruno Sakura. Nara Shikamaru, que eventualmente se tornaria seu cunhado. Temari e Kankuro, que o haviam apoiado, mesmo quando tinham medo dele.


Todo mundo tinha sido tão bom.


“Eu o conheço, e aprendi a amar um mundo além de mim... E eu queria um dia amar alguém do jeito que minha mãe, meu irmão e minha irmã me amavam. A razão de eu ser capaz de pensar assim... Foi pela existência de Naruto”.


Uma luz que tinha iluminado bem no fundo de sua escuridão eterna.


Essa luz tinha sido Naruto.


*


Havia um sonho que Gaara ainda se lembrava neste momento.


O sonho que ele tinha visto no meio do Infinite Tsukuyomi.


Seu pai, mãe e Yashamaru tinham estado lá. Ele tinha estado lá, jovem e sem manchas de sangue. E havia também Naruto, seu amigo.


Curiosamente, ele não tinha conhecimento de coisas como um amante, ou status elevado, ou glória como shinobi.


Ele só tinha se sentido terrivelmente, terrivelmente feliz.


Gaara não se arrependia de ter jogado fora esse sonho.


Ele acreditava que viver como eles faziam agora, e não em um sonho, mas na realidade, era o futuro que eles tinham escolhido para si mesmos.

Mas, aquele que fez isso para o sonho de Gaara ser tão feliz tinha sido Naruto. Se ele não tivesse conhecido Naruto, ele não teria sido capaz de ter uma experiência no genjutsu com a felicidade da amizade.


Além disso, era um certo fato agora, Gaara realmente tinha amigos e uma família ao seu lado.


*


“Naruto não tinha nada a ganhar com o que ele fez. Teria sido bom se ele tivesse matado um inimigo perigoso como eu. Mas ele não fez. É por isso que...” Gaara deu um sorriso irônico. “Eu pensei que queria tentar fazer algo ilógico também”.


Quando ele disse isso em voz alta, certamente soou como um tolo.

Mas também soou estranhamente refrescante.


“Alguma coisa ilógica?” Shijima perguntou.


“Sim. Como o vento que atravessa o deserto. Não se restringindo a nada, e amando todo mundo... a verdade é que eu pensei que queria tentar viver dessa maneira”.


“... Sim, eu entendo”. Shijima acenou com a cabeça, seus olhos parecendo como se ela estivesse olhando para algo muito distante.

“Mas, eu realmente não posso fazer isso”, Gaara disse, “Eu tenho muitas coisas que não posso jogar fora, e coisas demais que tenho que proteger”.


“Você é o ‘Kazekage’, afinal”. Shijima disse. Ela sorriu.


O sorriso de Shijima era diferente de Hakuto ou de Temari.


Por um momento, Gaara vagamente sentia como se isso parecesse com o sorriso de sua mãe que ele tinha visto há muito tempo. Então ele se perguntou se esse não era o ‘complexo de mãe’ que Temari tinha falado.


“Eu sou assim também”, Shijima disse. Ela levantou um dedo, traçando as bordas de seus óculos. “Eu...”.


Shijima tirou os óculos.


Seus olhos estavam fechados.


Ela apenas parecia como Hakuto, mas o rosto sorridente de Shijima era repleto de muito mais tristeza.


“Eu me sacrifiquei”, disse Shijima. “Por uma questão de pesquisar como replicar o segredo do ‘sharingan’ de Konoha”.


“... Foi Orochimaru?”.


“Sim”.


Orochimaru era um shinobi lendário de Konoha que tinha caído em um caminho do mal. Ele tinha matado o Kazekage de Sunagakure e fingiu ser ele por um período de tempo, durante a realização de experiências terríveis. Os detalhes do que tinha acontecido na época não tinham sido esclarecidos até hoje, mas pensar que um daqueles sujeitos de teste tinha estado bem ao lado dele.


“O experimento terminou em fracasso... e eu coloquei um selo em meus próprios olhos”, Shijima disse, “Eu tinha que fazer isso, porque eu não tinha o jutsu para conter a técnica ocular. E confiei a questão de se tornar o sucessor do clã à minha irmã mais nova, Hakuto”.


Shijima colocou seus óculos grossos e volumosos novamente.


Então essa era a razão. Gaara agora entendia porque Shijima usava aqueles óculos tão inadequados para o campo de batalha. Eles eram uma ferramenta de restrição usada para conter um doujutsu irrefreável.


“Por que... você me disse isso?” Gaara perguntou.


Mesmo se eles fossem da mesma vila, nunca se deve revelar de forma descuidada detalhes sobre seu próprio jutsu.


Essa era uma regra clara dos shinobis.


Porque revelando os segredos do seu próprio jutsu para alguém não era diferente do que confiar na pessoa com sua própria vida.


“Eu também... queria tentar fazer algo um pouco ilógico”, Shijima disse, suavemente se colocando de pé. “Isso é ruim?”.


Sua figura estava pouco iluminada pela luz fraca. Ela parecia terrivelmente bonita.


“Não”, Gaara se levantou também, “não há nada de ruim”.


“Podemos encontrar o caminho para sair dessa caverna com liberação de vento”, disse Shijima, “Eu vou nos guiar para a saída”.


“Eu vou contar com você”, Gaara disse, “Quero conversar o máximo de chakra possível”.


Sua fadiga tinha ido para algum lugar muito longe dali.


Era hora de continuar sua busca.

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